Como tirar o melhor dos alimentos
Pesquisas mostram quais são as formas adequadas de preparar as refeições para conseguir preservar todos os nutrientes e impedir a formação de compostos prejudiciais à saúde.
Depois da
constatação dos benefícios dos nutrientes para a saúde, a ciência se aprofunda
em uma segunda etapa. Pesquisadores da alimentação estão buscando uma cozinha
mais inteligente, direcionada para encontrar as melhores formas de extrair dos
alimentos o que eles têm de melhor, evitando o desperdício de substâncias como
vitaminas, minerais e compostos da família dos polifenóis, antioxidantes que
ajudam na prevenção do envelhecimento precoce das células.
Nos consultórios dos nutricionistas, essa preocupação tem se manifestado na
forma de recomendações sobre a maneira mais adequada de combinar as comidas do
prato. “A ciência está mostrando que há associações que podem incentivar a
absorção de vitaminas e minerais, enquanto outras levam à perda e ao desperdício”,
ensina a nutróloga e endocrinologista Vânia Assaly, do Instituto de Prevenção
Personalizada, de São Paulo. Na vida prática, as constatações implicam
condenação de algumas parcerias de sucesso à mesa. Uma delas é o encontro
muitas vezes consagrado pela gastronomia internacional das carnes com os
derivados do leite. Apesar do sabor incomparável, a dupla se anula. “Servir
alimentos ricos em cálcio e ferro na mesma refeição é perda de tempo. Eles
competem no intestino, que consegue absorver apenas um ou outro de cada vez”,
afirma a nutricionista Cynthia Antonaccio, da Equilibrium Consultoria.
A melhor conduta, do ponto de vista dos analistas da alimentação, é separar
ambos. Mesmo assim, ainda falta um ajuste para tirar o melhor da carne. “A
combinação mais proveitosa para obter mais ferro da carne é acrescentar à mesma
refeição frutas como morango, acerola, kiwi, laranja. A vitamina C, abundante
em todas elas, modifica o estado do ferro, permitindo que seja mais bem
absorvido”, ensina a nutricionista Daniela Jobst, de São Paulo, pós-graduada em
nutrição clínica funcional e bioquímica do metabolismo.
Sob os critérios do melhor aproveitamento nutricional, a dupla café com leite
também não passa no teste. “A cafeína prejudica o aproveitamento do cálcio”, explica
Daniela. Quer dizer que, para o organismo, é melhor banir o pingado e o pão com
manteiga? “Trata-se de um hábito muito enraigado no cotidiano do brasileiro.
Por isso, a orientação é aumentar o consumo de outros derivados de leite no
intervalo das refeições para haver maior ingestão do mineral”, explica a
nutricionista Erika Alvarenga, de São Paulo, especialista em fisiologia do
exercício e saúde.
Para tornar mais palatáveis recomendações como a separação da carne e do leite,
Erika criou um programa de atendimento domiciliar. Durante três a seis meses,
ela frequenta a casa dos clientes para ensinar a compor cardápios sem os
equívocos que eliminam ou desperdiçam nutrientes. A arquiteta Kátia Llaneli
entrou no programa pela segunda vez para oferecer o treinamento para a
cozinheira Renilde Jesus dos Santos e a babá Margareth Pontes. Uma das
novidades que elas estão aplicando no dia a dia é tirar o macarrão da água de
cozimento de um a três minutos antes do tempo indicado no pacote. E jamais
esquecer da água fria antes de temperá-lo. “Deixar o macarrão ao dente e depois
resfriá-lo permite que o amido adquira uma forma mais resistente, que não é tão
facilmente absorvida pelo organismo. Isso dá saciedade por mais tempo”, explica
Erika. “Estou aprendendo muito. Não sabia, por exemplo, que é necessário
esperar pelo menos duas horas depois de ter dado uma comida com carne a uma
criança para dar leite materno ou mamadeira”, diz Kátia, mãe de Rafael, 2 anos,
e Beatriz, 3 anos.
A mesma preocupação em preservar os nutrientes está refletida em estudos que
buscam conhecer quais são, de fato, os alimentos mais ricos em substâncias
bem-vindas ao corpo. Um exemplo é o trabalho de duas universidades da
Inglaterra, Liverpool e Glasgow. As instituições fizeram uma pesquisa de três
anos para avaliar a qualidade do leite orgânico, produzido por vacas
alimentadas com grama, em relação ao leite proveniente de animais que comem
ração. A conclusão foi que o produto orgânico possui mais gorduras do tipo
ômega 3, que beneficiam o sistema cardiovascular.
Muito também tem se descoberto sobre os malefícios que podem advir de um
preparo mal orientado. Um trabalho feito pelo Instituto Nacional do Câncer dos
Estados Unidos, por exemplo, constatou que o cozimento da carne (vermelha e branca)
sob altas temperaturas pode levar ao surgimento de dois compostos químicos
nocivos: as aminas heterocíclicas (HCA) e hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos (PAHs). Em pesquisas com animais, ambos estão associados ao
câncer. “O HCA também pode se formar diretamente sobre a carne quando ela é
frita ou grelhada”, diz a nutricionista Raquel Maranhão, do Hospital
Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da empresa BeSlim. “A
forma mais adequada é o cozimento lento, em fogo baixo, com o cuidado de manter
a carne sempre hidratada, assegura a nutróloga Vânia Assaly.
Outra estratégia para impedir a formação desses compostos seria a adição de
ervas. De acordo com uma pesquisa feita na Universidade Kansas State, nos
Estados Unidos, colocar alecrim na panela reduziu em até 92% a formação dessas
substâncias. Outras especiarias, como coentro, açafrão e cominho ajudariam a
prevenir a formação dos hidrocarbonetos em 39%. E há também a possibilidade de
compensar a presença dessas substâncias indesejáveis ingerindo, regularmente,
porções de folhas e legumes coloridos. “Eles fornecem substâncias que ajudam o
organismo a neutralizar a ação dessas substâncias”, explica a nutricionista e
mestre em ciências Márcia Daskal Hirschbruch, da Recomendo Consultoria
Nutricional e de Qualidade de Vida, de São Paulo. “Variedade à mesa e na forma
de preparo são o grande segredo. Assim, garantimos mais um nutriente
fundamental para a saúde, que é o prazer de comer”, diz Márcia.
Fonte: ISTO É
Em: Para saber!
blog comments powered by Disqus