25 Dúvidas sobre o Consumo de Sal
Ele começou a ser utilizado na culinária não por dar sabor aos
alimentos, mas por seu potencial sanitário. Com um forte poder esterilizador, o
sal conservava a comida, impedindo a reprodução de bactérias. Mas esse aliado inicial
da saúde agora está sob a mira das entidades médicas.
Associado a uma série de problemas, entre eles a hipertensão, o sal foi alvo de
uma ação recente da American Medical Association. A entidade pediu à FDA
(agência responsável pela regulamentação de alimentos e remédios nos Estados
Unidos) que mudasse o status do sal, até agora considerado uma substância de
consumo seguro. Além disso, a associação quer reduzir pela metade a quantidade
de sódio em alimentos processados ou servidos em lojas de fast-food.
O sal não traz só malefícios. Ele é necessário para o equilíbrio dos fluidos
corporais e para a transmissão de impulsos nervosos.
O problema é que nosso paladar se adaptou tanto a ele que o consumo se tornou
excessivo. Uma pesquisa recente do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor) sobre fast-food encontrou sanduíches cujas unidades oferecem quase
80% do sódio recomendado por dia.
A Folha ouviu especialistas para saber quais são as conseqüências desse exagero
e como diminuir a quantidade de sal na comida. A primeira dica é valorizar
ervas e condimentos que acentuam os sabores. Afinal, "sem sal" não
precisa ser sinônimo de "sem graça".
1 - Qual a importância do sal para a saúde?
O sal está diretamente ligado ao volume de fluidos fora das células. Tudo que
modifica a quantidade de sal afeta a retenção de líqüidos no corpo. Ele ajuda a
regular as passagens de líqüido e de substâncias pela membrana das células,
mantendo a pressão osmótica delas. Além disso, é importante para a transmissão
de impulsos nervosos.
2 - Sódio é sinônimo de sal?
Não. 6 g de sal equivalem a 2,4 g de sódio. Fique atento na hora de ler o
rótulo dos alimentos: eles trazem a quantidade de sódio, e não de sal, que eles
contêm.
3 - Quanto deve ser consumido por dia?
A recomendação da OMS é 2g/dia de Sódio.
A recomendação do Ministério da Saúde é de 4-6 g/dia de SAL
4 - Há recomendações específicas para crianças e idosos?
Ambos devem consumir menos sal. Aconselha-se que os pais não adicionem a
substância à comida das crianças até os dois anos de idade. Além de o leite
materno e o sódio já presente nos alimentos suprirem suas necessidades,
evita-se, com isso, que elas se acostumem a uma alimentação muito salgada, já
que é nessa fase que se forma o padrão gustativo.
Já os idosos devem comer menos sal (o ideal seria cerca de 5 g por dia) porque
tendem a reter mais sódio e também porque, com o envelhecimento, os vasos vão
perdendo naturalmente a capacidade de distensão, sendo mais provável que
desenvolvam hipertensão.
5 - Em média, quanto sal os brasileiros comem por dia?
Não há estudos populacionais que determinem um valor médio para todo o país.
Mas pesquisas realizadas em alguns Estados mostraram que o consumo é de
aproximadamente 12 g, valor muito acima do recomendado.
6 - Quem não acrescenta sal à comida come pouco sal?
Não necessariamente. Estima-se que 75% do sal que consumimos seja proveniente
de alimentos processados industrialmente. Molhos, como o ketchup, produtos em
conserva e embutidos são as opções mais ricas em sal. Os outros 30% vêm dos
alimentos naturais e do sal que adicionamos aos alimentos.
7 - Doces estão liberados?
Não necessariamente. Quem tem hipertensão deve evitar produtos adoçados com
ciclamato de sódio. Assim como o sal, esse adoçante tem sódio, que afeta a
pressão.
8 - Posso suprir minha necessidade diária de sal só com alimentos naturais?
Sim. O sódio está presente na maioria dos alimentos, embora em quantidade
pequena. Alimentos como carne, peixes e ovos podem suprir essa necessidade. O
problema é que nossa alimentação é pobre em iodo, e o sal de cozinha é, por
lei, enriquecido com essa substância. O iodo é importante para a saúde
(gestantes que têm um consumo insuficiente de iodo, por exemplo, podem ter
filhos com distúrbios cognitivos).
9 - O que acontece a quem ingere uma quantidade insuficiente de sal?
Problemas causados por ingestão insuficiente de sal são raros, mas acredita-se
que uma dieta muito restritiva de sal (menos de um grama por dia para adultos)
altera o perfil lipídico do organismo, aumentando os índices de colesterol
ruim. Ainda não se sabe qual o mecanismo que leva a essa alteração.
10 - O excesso de sal leva à hipertensão?
Sim. Em populações que consomem muito sal, os índices de hipertensão são mais
altos à medida que as pessoas envelhecem.
11 - O efeito do sal é o mesmo em todas as pessoas?
Não, os graus da sensibilidade ao sal variam de pessoa para pessoa. Acredita-se
que algumas pessoas, por determinação genética, tenham rins que não manipulam
bem o excesso de sal no organismo. Por isso, elas seriam mais sensíveis ao sal.
Essa característica também está ligada a grupos étnicos: entre negros, por
exemplo, a prevalência de pessoas mais sensíveis ao sal é maior. Homens e
mulheres também apresentam resistência diferente ao sal. As mulheres, de modo
geral, são mais "protegidas" contra os efeitos do sal até a
menopausa. Depois disso, o risco de ter hipertensão é mais acentuado nelas do
que neles.
12 - Como é possível saber se alguém é hipersensível a sal?
Existem testes que permitem averiguar a sensibilidade ao sal, entretanto, eles
são utilizados apenas em pesquisas. Esses exames não são usados na prática
clínica porque a recomendação para todas as pessoas, independentemente de elas
serem sensíveis ou não, é comer pouco sal.
13 - Quem tem pressão baixa precisa comer mais sal?
Não, pois o fato de a pessoa ter pressão baixa não significa que ela não possa
ter hipertensão no futuro. Além disso, sabe-se que os riscos de problemas
cardiovasculares são maiores entre pessoas que comem muito sal mesmo quando
elas não apresentam hipertensão arterial. O mesmo vale para problemas renais e
digestivos. Estudos também mostram que o excesso de sal pode causar
broncoespasmos, piorando quadros de asma.
14 - O excedente de sal é liberado pelos rins? Então por que se preocupar
com a quantidade?
O rim tem uma capacidade limitada para filtrar e excretar o sal. Quando o
consumo é muito alto, o rim trabalha sob uma pressão maior e pode ter seu
funcionamento comprometido. A hipertensão é uma das principais causas de doença
renal crônica. Além disso, ingerir muito sal aumenta os riscos de cálculo renal
--formação de pequenas "pedras" nos rins.
15 - Em quanto tempo o organismo consegue expelir o excesso após uma
alimentação sobrecarregada de sal?
Pessoas normais demoram de um a dois dias para reequilibrar o organismo. Em
pessoas com hipertensão, o processo de eliminação do excesso de sal demora de
cinco a sete dias.
16 - Consumir sal em excesso dá celulite?
Não. A retenção de água que o sal promove é intravascular, e não na pele. Isso
pode causar inchaços nas pernas ou nos dedos da mão, mas não celulite.
17 - O sal causa problemas na tireóide?
Sim e não. O cloreto de sódio não afeta a tireóide. Entretanto, no Brasil, o
sal é enriquecido com iodo. Se consumido em excesso, o iodo pode levar à
tireoidite de Hashimoto em pessoas com predisposição genética a doenças
auto-imunes. Em 2003, a Anvisa reduziu os níveis de iodo no sal para evitar
esse tipo de problema.
18 - O que é o sal light e quais seus benefícios?
O sal light é formado por uma mistura de cloreto de sódio e cloreto de
potássio. Embora os dois possam ser chamados de sal, eles afetam o organismo de
formas diferentes. Enquanto o potássio regula a retenção de líquidos dentro das
células, o sódio age fora das células. Embora seja recomendado a pessoas com
hipertensão, o sal light não é indicado para pessoas com problemas renais.
Embora o potássio não leve a doenças renais, problemas nos rins levam a um
acúmulo de potássio no corpo, o que aumenta os riscos de problemas cardíacos.
19 - Quais as diferenças entre o sal marinho e o sal mineral?
Embora sejam extraídos de formas diferentes (o mineral de minas subterrâneas e
o marinho, da evaporação da água do mar), os dois apresentam a mesma composição
e causam os mesmos efeitos no corpo.
20 - Qual a diferença do sal para o glutamato monossódico?
Além do cloreto de sódio, esse tempero tem outras substâncias que realçam o
sabor de alguns alimentos. Como é rico em sódio, ele não pode ser considerado
uma alternativa saudável ao sal.
21 - Faz diferença colocar o sal durante o cozimento ou adicioná-lo depois,
quando a comida já está pronta?
Sim e não. Os efeitos do sal são os mesmos, independentemente do momento em que
ele foi adicionado à comida. Mas os médicos recomendam que as pessoas tirem o
saleiro da mesa porque elas tendem a colocar mais sal quando a comida já está
pronta do que quando temperam na hora do cozimento.
22 - Posso substituir o sal por outra substância?
Embora não exista um substituto para salgar os alimentos, o sal pode ser
trocado, nas receitas, por ervas e condimentos que acentuem o sabor dos
alimentos.
23 - Grávidas devem seguir alguma orientação específica?
As regras são as mesmas, de 4g a 6g/dia de sal. Como a mulher já tem uma
tendência a reter líquidos durante a gravidez, o consumo excessivo de sal pode
levá-la a um aumento de pressão, o que pode causar pré-eclampsia. Entretanto, a
dieta também não pode ser muito restritiva em relação a sal, já que, nos
primeiros meses, a gestante tende a ter uma pressão mais baixa, e a falta de
sódio pode diminuir o fluxo de sangue que chega até a placenta.
24 - Como deve ser o consumo de sódio para esportistas?
O sódio, assim como outros sais minerais, é liberado pelo corpo junto com o
suor. Por isso, pessoas que se exercitam intensamente podem perder mais sódio.
Mas isso só se torna um problema se o exercício for praticado por muito tempo
(a partir de uma hora, uma hora e meia), principalmente em ambientes quentes e
úmidos. Nesses casos, a reposição deve ser feita por meio de bebidas
isotônicas, e não pelo acréscimo de sal na comida.
25 - Quais são as regras para a utilização de sal nos alimentos processados?
A legislação brasileira não impõe limites para a quantidade de sal adicionada
aos alimentos industrializados nem obriga as empresas a colocar alertas nas
embalagens. Mas os fabricantes são obrigados pela Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) a informar no rótulo o teor de sódio no alimento.
Fontes: ANDREA GALANTE, nutricionista, presidente da Associação
Brasileira de Nutrição; APARECIDA MACHADO DE MORAES, dermatologista, professora
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); CELSO AMODEO, cardiologista e
nefrologista, chefe de hipertensão do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese;
CLÁUDIA DORNELLES SCHNEIDER, nutricionista especialista em ciências do esporte,
professora das especializações da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do
Sul) e da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul);
DANIEL MAGNONI, cardiologista e nutrólogo do HCor (Hospital do Coração);
JOCELEM MASTRODI SALGADO, pesquisadora e professora titular da Esalq (Escola
Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"), da USP (Universidade de
São Paulo), e presidente da Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais;
LUCÉLIA CUNHA MAGALHÃES, cardiologista, conselheira científica da Sociedade
Brasileira de Hipertensão e coordenadora do programa de hipertensão da
Secretaria de Saúde do Estado da Bahia; GERALDO MEDEIROS NETO,
endocrinologista, professor da Faculdade de Medicina da USP; e PATRÍCIA
FERREIRA ABREU, nefrologista, secretária-geral da Sociedade Brasileira de
Nefrologia e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Em: Para saber!
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